"Quem já tocou o amor pelo sabor do gesto?
Sentiu na boca o som? Mordeu fundo a maçã?
Na casca, a vida vem tão doce e tão modesta
Quem se perdeu de si?"
Vai menino!
Tira esse véu azul da face.
Azul é lindo, mas eu prefiro o castanho dos seus olhos.
"A vida da gente é mistério
A estrada do tempo é segredo
O sonho perdido é espelho
O alento de tudo é canção
O fio do enredo é mentira
A história do mundo é brinquedo
O verso do samba é conselho
E tudo o que eu disse é ilusão"
" O mundo é da cor que você pintar! " ( Autor - Robrato )
O mundo lá fora continua ganhando velocidade. As coisas surgem e perdem o valor no mesmo instante. As pessoas tornam-se cada vez mais instantâneas, necrosam num piscar de olhos. Mas isso é o “mundo lá fora”, eu permaneço em minhas profundezas poéticas, no meu mundo, ora colorido, cheio de vida e sabores, ora bege, organizado e calculista. A superfície permanece quieta, aparentemente inofensiva, mas no fundo existe o caos. De pensamentos, vozes que me contradizem o tempo todo, consciência talvez. E sentimentos que sangram, mancham a água desse meu oceano, os que ainda não existem não tardam a brotar e expandir.
A água do mar tende a esfriar quando se ganha profundidade, por isso admito, aqui é um pouco frio, mas eu me adaptei, e o que antes era frio, tornou-se a temperatura ambiente. Gosto de ficar aqui, segura, ainda que confusa, entre os gritos dos meus “eus”. Gosto das correntes marítimas, agradáveis e quentes, que por aqui passam, elas deixam menos solitário esse meu lugar, gosto do fato delas serem periódicas, mas às vezes machuca, porque acabo me apegando, esqueço que vivo no oceano, e que ele preza a inconstância. Mas eu sei que no fim, vou estar sozinha, sei que minhas vozes irão compactar-se num só grito, e finalmente, minha loucura se tornará exata.
Evoluo lentamente, à minha maneira, permaneço entre superfície e profundeza, entre minhas músicas, livros, correntes marítimas e café. E não tenho pressa, crio meu próprio tempo, enfeito meu espaço, alimento minhas vozes. Canto os meus planos e defeitos.
Lá fora, o tempo corre, o espaço muda, as pessoas continuam deploráveis, mas eu...Eu prefiro as minhas músicas, palavras e metáforas, porque, veja bem, o melhor lugar do mundo é a própria casa, ainda que ela exista apenas na imaginação.
Juliana Almeida.
Sobre a música e vídeo: _Nome: Para ver as meninas. _Composição: Paulinho da viola. _Interpretação: Paulinho da Viola e Marisa Monte. _Letra aqui.
“[...] Devagar com o andor, teu santo é de barro e a fonte secou, já não tens tantas verdades pra dizer, nem tampouco mais maldades pra fazer [...]” (Samba de um minuto – Rodrigo Maranhão)