quinta-feira, 21 de julho de 2011

Policromo.

"Quem já tocou o amor pelo sabor do gesto?
Sentiu na boca o som? Mordeu fundo a maçã?
Na casca, a vida vem tão doce e tão modesta
Quem se perdeu de si?"



Vai menino!
Tira esse véu azul da face.
Azul é lindo, mas eu prefiro o castanho dos seus olhos.
Deixa desabrochar esse teu riso brando.
E se ele for amarelo, eu não me importo.
Amarelo é bonito também.
Despe-se do medo desses pecados.
Isso é invenção de gente mal amada.
Que na avidez não enxerga pureza.
Calma, permanece ameno.
Não me refiro à matemática do seu corpo.
Eu clamo por sua essência.
É nata a beleza que ela possui.
Deixa-me regar o seu sorriso frouxo.
Enfeito-te de afeto.
Faço da minha essência teu colo.
Vem que eu te nino, cumpro-te as vontades.
Deita aqui, apóia a cabeça no meu amor.
Que eu quero ser multicor também.

Juliana Almeida


Sobre a música e o vídeo:
_Nome: Alma.
_Composição: Pepeu Gomes e Arnaldo Antunes. 
_Interpretação: Zélia Duncan. (linda)


domingo, 17 de julho de 2011

Melodia.

" Tenho duas namoradas.
A música e a poesia.
Que ocupam minhas noites.
Que acabam com meus dias.
[...]
Nenhum instante se deixam.
Grudadas pelas costelas.
Nenhum segundo me largam.
Também eu não largo delas. "


O tempo foi escorrendo.
E eu fui me perdendo na música.
E encontrando-me nela.

Desde então eu canto.
Atinjo as notas mais altas que puder.
A inquietude do meu ser é quem dita o tom.
O desfecho dessa vida se faz repertório.
Por fim, existimos apenas a música e eu.
As imagens tornam-se embaçadas.
Os sons alheios são ruídos.
Tudo é inútil, todos são ninguéns.
A melodia é o que me interessa. 

Juliana Almeida.

Sobre a música e o vídeo:

_Nome: Força estranha.
_Composição: Caetano Veloso.
_Interpretação: Caetano Veloso.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O amor (cego) do parto se revela.



Eu sei minha doce menina.
Que quando o guri na rua desponta.
A noite parece mais longa.
E o sono se esquiva a vir.

Não chora sofrida mulher.
Seu guri ainda tem volta.
A favela um dia se acalma.
E no ensino ele vai prosseguir.

Juliana Almeida


P.S.: Nesse caso a relação entre o título do poema com o poema em si e a música é de extrema importância. 

Sobre a música e o vídeo: 
_Nome: O meu guri.
_Composição: Chico Buarque de Hollanda. 
_Interpretação: Chico Buarque de Hollanda.



sábado, 2 de julho de 2011

Meu lugar.

"A vida da gente é mistério
A estrada do tempo é segredo
O sonho perdido é espelho
O alento de tudo é canção
O fio do enredo é mentira
A história do mundo é brinquedo
O verso do samba é conselho
E tudo o que eu disse é ilusão"


" O mundo é da cor que você pintar! "
( Autor - Robrato )

O mundo lá fora continua ganhando velocidade. As coisas surgem e perdem o valor no mesmo instante. As pessoas tornam-se cada vez mais instantâneas, necrosam num piscar de olhos. Mas isso é o “mundo lá fora”, eu permaneço em minhas profundezas poéticas, no meu mundo, ora colorido, cheio de vida e sabores, ora bege, organizado e calculista. A superfície permanece quieta, aparentemente inofensiva, mas no fundo existe o caos. De pensamentos, vozes que me contradizem o tempo todo, consciência talvez. E sentimentos que sangram, mancham a água desse meu oceano, os que ainda não existem não tardam a brotar e expandir.

A água do mar tende a esfriar quando se ganha profundidade, por isso admito, aqui é um pouco frio, mas eu me adaptei, e o que antes era frio, tornou-se a temperatura ambiente. Gosto de ficar aqui, segura, ainda que confusa, entre os gritos dos meus “eus”. Gosto das correntes marítimas, agradáveis e quentes, que por aqui passam, elas deixam menos solitário esse meu lugar, gosto do fato delas serem periódicas, mas às vezes machuca, porque acabo me apegando, esqueço que vivo no oceano, e que ele preza a inconstância. Mas eu sei que no fim, vou estar sozinha, sei que minhas vozes irão compactar-se num só grito, e finalmente, minha loucura se tornará exata.
Evoluo lentamente, à minha maneira, permaneço entre superfície e profundeza, entre minhas músicas, livros, correntes marítimas e café. E não tenho pressa, crio meu próprio tempo, enfeito meu espaço, alimento minhas vozes. Canto os meus planos e defeitos.
Lá fora, o tempo corre, o espaço muda, as pessoas continuam deploráveis, mas eu...Eu prefiro as minhas músicas, palavras e metáforas, porque, veja bem, o melhor lugar do mundo é a própria casa, ainda que ela exista apenas na imaginação.   


Juliana Almeida.

Sobre a música e vídeo:
_Nome: Para ver as meninas.
_Composição: Paulinho da viola.
_Interpretação: Paulinho da Viola e Marisa Monte.
_Letra aqui.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Foi-se.



Não se sinta responsável por minhas palavras.
Muitos menos por minha dor.
A dolência é por puro prazer.
A única lamúria em mim presente.
É a do tempo perdido, roubado.
Você em minha história.
Não passa de “nota de roda pé”.
A porta da rua é a serventia da casa.
E do meu amor.


“[...] Devagar com o andor, teu santo é de barro e a fonte secou, já não tens tantas verdades pra dizer, nem tampouco mais maldades pra fazer [...]”   (Samba de um minuto – Rodrigo Maranhão)

Sobre a música e vídeo:
_Nome: Avião.
_Composição: Djavan.
_Interpretação: Djavan.